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Um Dia de Aprendizado

Atualizado: 28 de jun.

Algo que tenho aprendido é que educar é aproveitar as oportunidades únicas de cada momento do dia para suprir a curiosidade natural das crianças. Fazer isso para ensinar conceitos e valores é a maior descoberta que fiz na vida, porque elas aprendem muito mais quando estão interessadas em aprender, mas não é todo dia que isso acontece. As vezes, o ensino ocorre de forma mais planejada e estruturada, mas dias como o que vou relatar são especiais, e permanecem em minha mente como um dos dias de aprendizado mais espontâneo em meu lar. Na época em que ocorreu morávamos nos EUA, e minhas filhas tinham entre 7 e 10 anos de idade.


Após o desjejum e as atividades rotineiras da manhã, nos preparamos para ir à biblioteca que ficava à uns 20 minutos de casa. Tínhamos alguns livros para devolver, mas um dos livros estava emprestado para alguns amigos. Então, fomos até a casa deles buscar. Ao chegar lá, a filha menor veio nos mostrar um kit com um máquina para fazer papel reciclado que recentemente ganhara. Minhas filhas ficaram encantadas com máquina e ao sairmos para a biblioteca fomos conversando a maior parte do caminho sobre reciclagem e por fim entramos no assunto de decomposição. Quanto tempo demora para as coisas se decomporem? Papel, ferro, madeira, etc. Como eu não sabia muito bem, prometi que ao chegar em casa iríamos pesquisar sobre o assunto.


Fomos à biblioteca entregamos os livros e pegamos outros como de costume. Ao sair do prédio notamos que na praça logo em frente havia uma exposição sobre decomposição. Nunca havíamos notado antes, mas naquele de uma maneira especial ela saltou diante dos nossos olhos. Era um canteiro com vários objetos enferrujados e apodrecidos (roda de bicicleta, máquina de costura e outros) deixados ali para se decomporem naturalmente. Havia também uma placa falando sobre a importância da reciclagem.


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Enquanto íamos para o carro notei vários homens varrendo a praça. Percebi que eles usavam o uniforme de uma penitenciária e que haviam alguns policiais por perto (cena um tanto comum nos EUA). Alguns deles sorriram e acenaram para as meninas. Assim que entramos no carro, elas perguntaram um tanto desconfiadas quem eram eles e eu expliquei que eram detentos de uma penitenciária e que estavam fazendo algum tipo de “trabalho educativo”.


O incidente tomou conta da nossa conversa por um tempo, mas depois ficamos em silêncio e notei uma expressão de preocupação no rosto da menor. Finalmente ela perguntou: “Mamãe, se nós morássemos no Brasil, vocês poderiam ser presos por nos educar em casa?" (Olha onde a imaginação foi!)


Dei uma risada e expliquei que não era bem assim, que quando uma família era questionada ela tinha a oportunidade de dialogar, que os filhos talvez fossem testados e que as coisas seriam resolvidas de outra forma. Ela ficou pensativa e me perguntou se ela seria capaz de passar em um desses testes já que não aprendia como outras crianças. Expliquei que a educação delas era diferente, mas que com certeza saberiam responder as perguntas. Começamos então, fazer de conta que estávamos fazendo um “teste” e fiz perguntas sobre os três reinos naturais, tema que não tínhamos estudado formalmente ainda. Elas responderam corretamente e ficaram tranquilas ao perceber que sabiam o conteúdo.


Ao chegar em casa ainda estávamos falando sobre os três reinos e propus fazermos um cartaz com colagem de figuras sobre cada reino, mas elas não se interessaram. (Dica: Eu sou visual, mas elas não, por isso não se interessaram). Pensei e orei, então, me veio a ideia de sugerir que brincassem de livraria e separassem nossos livros nas três categorias: animal, vegetal e mineral. Elas gostaram muito da ideia e em cinco minutos nossa sala havia se transformado em uma livraria com as diferentes seções sinalizadas, com caixa, dinheirinho, leitor de código de barra improvisado e tudo mais que existe em uma livraria. Começamos então a brincar de fazer compras, dar troco, embalar os livros e aí entrou cálculos e matemática... e outras coisas mais.


Fizemos um intervalo para preparar o almoço e depois do almoço, como prometido, fizemos uma pesquisa na internet sobre decomposição. Encontramos uma lista que mostrava quanto tempo demora para diferentes materiais se decomporem. Conversamos bastante sobre isso e depois fomos para o quintal preparar um local para fazermos nossa estação de compostagem.


Mais tarde, elas pediram para convidar duas amiguinhas vizinhas para brincar de “livraria”. As amiguinhas chegaram e passaram muito tempo se divertindo: discutindo os assuntos dos livros, escrevendo plaquinhas, calculando preços, e se revezando como compradoras e vendedoras na livraria.


Dias como este enchiam meu coração de alegria, ao ver que o processo de ensino e aprendizado é muito mais natural do que pensamos. Deus nos criou com curiosidade para aprender, Ele nos dotou de uma máquina incrível que é o nosso corpo. Através dos nossos sentidos descobrimos o mundo ao nosso redor. Levamos essas informações ao cérebro onde são processadas, fazemos sentido de tudo que experimentamos e através desse processo crescemos dia após dia. Isto é lindo e natural! Vamos ficar atentos, pais, para participar desse processo com nossos filhos e aproveitar essas oportunidades preciosas de ensino!


Rute Bazan



Photo: Freepik

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